10.10.10

Pantomina

"Começa uma argumentação... Braços ao ar realizam movimentos que, mesmo ilógicos, são belos. Após um tempo, começam a tomar forma. Pequenas variações criam idéias. Sentimentos são transmitidos por cada onda de movimento que seu corpo emana e a platéia é atingida por todos eles de forma individual.

Ultraje! – gritam entre vaias e aplausos. O público está confuso. Suas palavras são muito fortes e sua voz é excessivamente profunda para a compreensão à primeira vista. Ele insiste! Seu torso gira em um eixo imaginário reafirmando que nunca irá desistir. Uma repetição de termos que transforma uma sentença em cacofonias e ruídos em comunicação pura. Sua mensagem é clara, mas o público se recusa a ver.

Agora suas pernas deixam o chão. O mundo roda à sua volta. Novas idéias são propostas, realidades alternativas apresentadas através de perspectivas inéditas. Uma sucessão de passos demonstra ações que, sem precedente, atingem a todos de modo uniforme. Palmas acompanham o rápido bater de pé no chão... a platéia se sente no dever de acompanhá-lo e desencadear o desastre. Movimentos esquizofrênicos demonstram uma interferência! O artista se cala...

Seus olhos passam de forma rápida por cada espectador. É o suficiente para causar desmaios, convulsões e dores. Sua expressão revela suas intenções. Dizer mais sem nada dizer.

Todos os movimentos voltam junto às expressões. É criada uma nova realidade. Não existe tempo, não existe medo, muito menos dúvidas. Viver torna-se uma arte. Os passos perdidos tornam-se uma dança. Novas perspectivas trazem novos horizontes.

E o artista continua seu monólogo... sem pronunciar uma palavra."

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